Blogue de NELSON S. LIMA

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Qual o papel dos genes e do ambiente na sobredotação?

Este é um tema que não tem merecido grande controvérsia na comunidade científica mas não deixa de ser objecto de pesquisa e de curiosidade.
Não suscita dúvidas o facto de, dada a heterogeneidade da Natureza, não existirem dois seres vivos iguais. Isto aplica-se também à inteligência e às capacidades cognitivas, psicomotoras, etc. Ou seja, partindo do princípio que não há dois indivíduos iguais fácil é de concluir que um será melhor do que o outro no que respeita a certos predicados. E assim temos que, dos dois indivíduos, um revelará mais potencialidades do que outro.
Só se admite que haverá sobredotação num deles desde que revele aptidões que ultrapassem os valores que sejam considerados médios para a totalidade da população, a sociedade e a época.
Mas voltando ao início: qual é o papel do meio envolvente? Será que os genes têm um papel determinante e decisivo? Poderá acontecer que alguém nasça "sobredotado" e posteriormente, devido a um ambiente empobrecido, possa tornar-se "normal"? Estas são algumas das perguntas que os estudantes, os professores e os pais fazem com alguma frequência.

O desenvolvimento cerebral
Sabe-se, actualmente, que o meio e as experiências de vida moldam a estrutura cerebral. Ou seja, o desenvolvimento do cérebro é um processo "dependente da experiência". Daniel Siegel, psiquiatra e professor na Escola de Medicina da Universidade da Califórnia, é perentório: "(...) a experiência activa certos percursos no cérebro, fortalecendo ligações existentes e criando outras novas". Isto é particularmente impressionante nos primeiros anos de vida. Inclui a estimulação a que a criança seja sujeita e a natureza dos relacionamentos interpessoais.
Como diz Daniel Siegel, "os genes contêm as informações para a organização geral da estrutura do cérebro mas a experiência determina quais os genes que se expressam, como e quando". Ora, o que acontece à criança no começo da sua vida tem um impacto tremendamente importante na sua mente.
Esse impacto resulta de alterações no cérebro, em particular: o crescimento dos neurónios, mais exactamente dos axónios (filamentos que ligam os neurónios uns aos outros); o estabelecimento de novas ligações entre os neurónios; o crescimento da mielina ao longo dos axónios (melhorando o funcionamento dos neurónios); etc.
Sendo o cérebro um sistema muito complexo constituído por biliões de neurónios e outras células (neuroglias, etc.) ligados uns aos outros, o seu desenvolvimento vai depender não apenas do que está determinado geneticamente mas sobretudo pelas actividades e experiências a que for sujeito. Um cérebro passivo, pouco estimulado, conduz à perda de capacidades. Um cérebro estimulado, que vivencie diferentes actividades, torna-se mais rápido, flexível e mais inteligente.


Qual é o papel dos genes?
No cérebro, os genes codificam a informação em relação a como os neurónios devem crescer e realizar as ligações uns com os outros. São processos que estão pré-programados mas dependentes da experiência. A experiência aqui trata-se de estimulação.
Os genes possuem duas grandes funções: contêm "informação" que passará para a geração seguinte e retiram informações codificadas no ADN (determimando quais a proteínas a ser sintetizadas). O processo de retirar informações do ADN chama-se "transcrição" e é directamente influenciado pela experiência/estimulação.
Assim, os genes não actuam sozinhos. Eles interagem com o ambiente. Então, o que se conclui é que a hereditariedade e a experiência/estimulação interagem no desenvolvimento da pessoa. Isto é tão importante que, diz o dr. Siegel, "o próprio comportamento altera a expressão genética, que depois cria o comportamento". Citando outro autor, M. Rutter, "a experiência, a expressão dos genes, a actividade mental e as interacções continuadas com o meio (experiência) estão intimamente ligadas num conjunto transaccional de processos".
A mente inteligente resulta pois não apenas dos genes, da hereditariedade. Há mais factores presentes, de natureza dinâmica, que devem ser considerados. Não apenas nos primeiros anos de vida mas ao longo de toda a vida. Isso faz apelo à optimização cerebral a qual inclui também a afectividade, a alimentação, a higiene, o estilo de vida, os cuidados parentais, a educação, etc. Falaremos disto posteriormente.